terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

BREVE HISTÓRIA DA PADARIA ESPIRITUAL, DE SÂNZIO DE AZEVEDO


Conheci Sânzio de Azevedo, quando passei a cursar a disciplina de Literatura Cearense, por ele ministrada, no ano de 1992, no Curso de Letras da UFC. A sua empatia com os alunos era imediata. Começando o semestre letivo ainda meio tímido, logo passava às suas conhecidas brincadeiras, fazendo o estudo da literatura sair dos pedestais da sisudez, lugar no qual alguns insistem em mantê-la. A maneira brincalhona de ser cativava os alunos e parecia ser algo, de alguma forma, herdada da Padaria Espiritual, tema que estuda desde sempre. Tanto é que, recentemente, foi lançada a sua Breve história da Padaria Espiritual, em volume bem cuidado pelas Edições UFC (Fortaleza, 2011).

O livro reúne as qualidades antes mencionadas, constituindo uma verdadeira lição para os pesquisadores que se lançam no árduo trabalho de historiografia literária, mas não só. Trata-se de uma escrita que combina a leveza (o que torna a leitura agradável) com o detalhamento necessário a produções dessa natureza, sendo que a historiografia apresentada no livro de Sânzio não é a tradicional, unicamente amparada em datas e fatos. Ao contrário, o ensaísta entremeia suas descobertas ao trabalho interpretativo, já que não se furta a apenas transcrever poemas e trechos de outras produções, explicando-os, aclarando-lhes os sentidos, quer seja no contexto da atuação literária e social da Padaria, quer seja no âmbito da expressão textual em si.

Neste sentido, a historiografia e a crítica literária se irmanam para resultar num estudo que acena para possibilidades de leituras da tradição, dentro de perspectivas multifacetadas: a história literária não vive sem o exame acurado das realizações de seus atores (no caso, os padeiros) na cena literária à qual pertencem, mas também não existe sem a visão (por mais breve que seja) dos registros (propriamente literários ou não) deixados por estes mesmos atores.

Além disso, há a preocupação de, com esta Breve história da Padaria Espiritual, corrigir alguns equívocos que foram se arrastando ao longo do tempo, bem como de oferecer, aos leitores das novas gerações (que não tiveram ainda a oportunidade de conhecer o alentado estudo A Padaria Espiritual e o simbolismo no Ceará, também de Sânzio de Azevedo) uma iconografia da agremiação e, como documentação, um retrospecto redigido pelo próprio idealizador da Padaria.

Na ocasião do lançamento da Breve história, no dia 03/10/2011, no auditório da Livraria Cultura, em Fortaleza, pôde-se notar como o tema desperta interesse e como o nome de Sânzio de Azevedo convida as pessoas ao encontro: o auditório lotado, para ouvir (e rir com) as histórias da Padaria, contadas pelo autor, em seu bom humor de sempre, com mediação da também escritora Socorro Acióli, que foi premiada com É pra ler ou pra comer: A história da Padaria Espiritual para crianças (Fortaleza, Ed. Demócrito Rocha, 2005). Uma reunião de sorrisos, casos pitorescos, simpatia, prazer e alegria, como talvez esperado em um lançamento que tivesse como tema a famosa agremiação fortalezense.

A empatia do público com a Padaria é a mesma que os leitores/admiradores têm com Sânzio: em ambos percebe-se a leveza com que se trata de assuntos ligados à literatura, fazendo com que o texto literário chegue mais próximo das pessoas, sem o peso da sacralização.

8 comentários:

  1. Tomei a liberdade de colocar aqui nos comentários um e-mail que recebi da amiga, professora da Universidade Federal do Ceará, Fernanda Coutinho, acerca da postagem relativa ao livro de Sânzio de Azevedo:

    Querido Miguel

    Embora eu seja meio que "bastante" suspeita (et pour cause), escrevo para dizer que sua reestreia no Página & Folhas foi bastante inspirada, arguta e feliz.
    Ao falar do S de A, você captou à maravilha o espírito do mestre e do escritor, quando deixa entrever que ambos se amalgamaram com a verve própria desses padeiros tão letrados.

    O Sânzio ficou bastante contente com suas palavras e observações, e hoje (nos dias que correm) dá realmente pra dizer que o historiador-crítico escolheu um tema bastante afim a si próprio e imagino que os padeiros gostariam de saber que foram por ele escolhidos.

    Apesar da suspeição que paira sobre mim, declaro que me esforcei para ser o mais isenta possível.

    Um abraço afetuoso
    Fernanda

    P.S. Não consegui postar no blog, uns pop-ups me impediram, mas se você puder fazer a gentileza...


    Um abraço para você, Fernanda, com a admiração e a amizade de sempre, Miguel

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  2. Fui aluna do Prof. Sânzio também na UFC, sempre cordial, afetuosos com todos os alunos. Ele é uma das melhores lembranças que trago da UFC. Afora isso é o maior estudioso da Padaria Espiritual no Brasil. Não tem para ninguém. Belo texto Miguel! Fiel a ele.

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  3. Miguel, como está sendo de grande valia essa oportunidade de revisitarmos a Padaria, estudo largado desde os tempos antigos de estudante de UFC! E seu texto acima, agradável e lucidamente bem construído, é um convite sedutor.

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    1. Meire Viana, obrigado! Espero que o convite se confirme na agradável leitura do livro do Sânzio, que é mesmo excelente.

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  4. Que legal, acredita que já tinha lido esse texto seu? rsrs
    faz tempo, acho que logo quando comecei a seguir seu blog há uns anos quando entrei na faculd., rs comecei a ler agora pela indicação lá no blogue e logo me senti familiarizada. Muito bom!

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    1. Veja só, Liz, acredito sim, afinal o texto é de 2012. Quando coloquei o link no comentário ao seu texto sobre a Padaria não lembrava se já a conhecia ou se você já conhecia o blog. Mas enfim... Que bom que você releu.

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