Panoramas – Ceará por inteiro,
livro de fotografias de Maurício Albano, abre-se como um convite para as
paisagens vastas. Desde sua capa, os elementos visuais explorados pelo
fotógrafo na captação e na representação de um Ceará “por inteiro” são
anunciados: a linha do horizonte divide a paisagem entre terra e céu, entre
água e ar, entre o malhado e o seco, entre luz e sombra, entre o próximo e o
distante de quem olha.
As imagens são panorâmicas, formato
relativamente incomum para um livro de fotografias, o que provocou uma solução
bem interessante para a edição. Diferentemente da maioria das publicações nessa
área (que seguem um modelo convencional de forma e tamanho de livro), adota um
outro modelo de manuseio por parte do leitor: em formato retangular (40 cm de
largura e 18 cm de altura) o livro abre para cima, como se fosse um calendário
de mesa. Isso potencializa a observação das fotos, pois cada uma aparece
inteira – às vezes duas – numa única página, sem a interferência da divisão de uma
página para outra (que, nos livros em formato usual, corta a fotografia em duas
na verdade) ou sem o recurso da página dobrada para abrigar uma fotografia (quando
uma página não é o suficiente para conter uma imagem maior).
Dividido em quatro partes, Maurício Albano
dá conta de paisagens e tipos humanos emblemáticos do Ceará: “Litoral”, “Sertão”
e “Serras” trazem ícones da paisagem cearense, como as praias, as dunas e os
mangues litorâneos com sua biodiversidade característica; a caatinga, os
monólitos do Sertão Central, as fazendas e o casario ainda preservados de
algumas cidades sertanejas e os açudes; as cachoeiras serranas, os aspectos montanhosos
e fauna e flora das regiões altas do estado. Na última parte – “Cultura” – há belos
registros de bumba meu boi, festas de Santo Antônio, produção de cerâmica,
fabricação de rapadura e de carne de sol, farinhada, preparo de tapioca, debulhar
do feijão verde, entre tanta coisa que ainda caracteriza o cotidiano de diferentes
partes do Ceará.
A impressão de variedades de luz aponta
para as tomadas terem sido feitas em diferentes épocas do ano e em diferentes
momentos do dia – da madrugada e do início da manhã até a noite de lua alta. As
imagens vão dos anos 1970 aos anos 2000 (a maioria desses últimos); e quando
foram publicadas (final de 2014), fruto de um projeto pessoal, Albano já tinha
mais de 40 anos de carreira como fotógrafo. Pouco tempo depois do lançamento, o
artista faleceu (março de 2015), antes de completar 70 anos, com antecedente renome
nacional pelo trabalho de captação dos lugares do Ceará e do cearense bem como
sua diversidade cultural, o que foi registrado em outros livros seus, em
exposições, em colaborações para jornais e revistas, entre outros trabalhos.
Tal renome é reconhecido por quem
escreveu os textos presentes em Panoramas – Ceará por inteiro: o
jornalista Flávio Paiva e o pesquisador e escritor Gilmar de Carvalho, que assinam
textos de apresentação que completam a edição primorosa da Terra da Luz
Editorial.
O Ceará mostrado nas imagens é belo, de
cores fortes (algumas vezes, estranhas), de paisagens impressionantes (algumas
delas inusitadas, para mim, que não viajei o suficiente para conhecer meu
próprio estado) e lugares convidativos. Mas também o povo cearense é registrado
em muitas das fotografias, quer seja em suas atividades mais prosaicas
realizadas pela gente simples, quer seja em suas atividades culturais
praticadas na base da alegria das pessoas. Observar os trabalhos de Maurício
Albano é um exercício de se reconhecer como cearense, como parte de cada uma
das panorâmicas desse “Ceará por inteiro” que nos cabe.
ALBANO,
Maurício. Panoramas – Ceará por inteiro. Fortaleza: Terra da Luz
Editorial, 2014. 120 p.
Miguel Leocádio Araújo
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