Em abril de 2015, foi lançada a "Antologia do quadrinho
underground cearense - Seres Urbanos (1991-1998)", que registra uma parte
da produção do grupo Seres Urbanos, formado por artistas de diferentes
formações: Weaver, Marcílio, Elvis, Lupin,m Kaos, Galba e Mychel – com colaborações
de artistas convidados pelo grupo. Primeiro, o lançamento ocorreu na Livraria
Cultura, no dia 09; nessa ocasião não pude ir. Mas depois no dia 25 de abril, o
livro foi lançado no Sobrado Dr. José Lourenço, no Centro de Fortaleza, com a
abertura da exposição: “SERES URBANOS fanzines 90's”; dessa vez eu fui,
comprei o livro, revi amigos, conversei e ouvi histórias ótimas (e também
engraçadas) num bate-papo que me fez voltar para a Fortaleza dos anos 90,
quando convivia comprando as artes gráficas e os zines dos Seres Urbanos.
Alguns dos componentes do grupo falaram sobre a cena dos quadrinhos na cidade
no período em que se iniciaram, se conheceram e se juntaram no grupo Seres Urbanos.
Fiquei com a Antologia alguns dias intocada em casa, já que
tinha uma pilha de livros para terminar e que diziam respeito ao meu trabalho. Mas,
então, resolvo num dia pegar o livro só para começar a leitura. Acontece que
não parei mais. Não consegui. Resultado: em menos de 24 horas, parei tudo o que
estava fazendo e li com voracidade o livro todo, que por sinal tem o registro
incrível de um bate-papo entre os Seres Urbanos, de quem comprei muito material
gráfico e zines (alguns até ganhei).
O livro é uma lindeza: num formato que eu chamaria de álbum
(21 x 30 cm), a capa já é uma obra para pôr na parede (na verdade estava na
parece em um dos espaços ocupados pela exposição no Sobrado Dr. José Lourenço).
Todo em preto e branco, muitas páginas me fizeram reconhecer muito do que
comprei ao grupo, no local onde o pessoal trabalhava ou em eventos (show,
exposições, festivais...) nos quais alguns deles ou todos eles apareciam,
urbanoides que são.
Mas não é só isso: a variedade da produção selecionada para a
Antologia acompanha a diversidade de formações, gostos e talentos de um
coletivo (quando ainda nem se sonhava em usar essa palavra de maneira tão
natural para caracterizar um grupo de pessoas envolvas numa mesma ideia com
semelhantes objetivos de produção criativa). No livro, tem fotografias,
colagens, xerox de colagens, desenhos, charges, tirinhas, histórias em
quadrinhos, contos gráficos, experimentos com a linguagem do design gráfico, zines...
Deu muita vontade de voltar para os anos 90. Muita mesmo.
Em 2016, depois de ir ver a exposição Rastro, do Weaver (um
dos artistas e um dos principais articuladores dos Seres Urbanos), no Espaço
Caixa Cultural, em Fortaleza, voltei ao livro, para reler com mais calma dessa
vez. Ao terminar a leitura de um livro como esses, puxei a brasa para a
sardinha da minha atuação como professor universitário da área de língua
portuguesa e fiquei imaginando o que um professor de português de mente aberta
e criatividade ilimitada (sem peias, como deveria ser) faria com um material
desses: com tantos gêneros textuais multimodais diferentes, que tipo de
atividade prepararia? Com tanta variedade de traços e experimentos gráficos,
que tipo de projeto textual-gráfico criaria junto com seus alunos? Com tanta
variedade de histórias, discursos e possibilidades de linguagens, o que ele
proporia como desafio de criação textual-visual para seus alunos? Fiquei só
imaginando...
Texto e fotos: Miguel Leocádio Araújo
SERES URBANOS. Antologia do quadrinho
underground cearense – Seres Urbanos (1991-1998). Ceará: SEBO, 2015.
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