Hoje é sábado; e chegou às minhas mãos (ainda bem!) a coletânea Meio-dia: alguna poesía de Fortaleza, editada em 2009, pelas Ediciones Vox (Argentina), com a chancela da Prefeitura Municipal de Fortaleza, sob os auspícios do Edital de Incentivo à Literatura da SECULTFOR, organizada por Diego Vinhas. A situação não poderia ser mais auspiciosa: um café com Mariana Marques e Carlos Augusto Lima, entre conversas sobre a vida, a literatura, a arte, consciência do corpo e a cidade, sempre a cidade. Solar, como sempre diz a Fernanda Meireles, sobretudo ao meio-dia, o que me dá o mote para falar do livro, que só comecei a ler, e só comecei mesmo. Mas alguém deve estar pensando: e toda essa linguagem formal: “chegou ás minhas mãos”, “com a chancela”, “sob os auspícios”, “auspiciosa” (meio imitada de novela barata)... Bom, queria reescrever um livro que me mobilizou de forma solene, nem sei explicar direito por que, mas depois talvez até consiga. A verdade é que escondi totalmente minha empolgação na hora do recebimento do livro, Carlos Augusto bem sabe, provavelmente. É que li recentemente num trecho escrito por Ferdinand Baldenspenger (um dos solos da literatura comparada) que um pesquisador que se preze tem que observar as coisas e observar as coisas. Sim. Porque quando ele olha apaixonadamente para as coisas compromete o objeto observado, enche-o de auras, de esplendores e de auréolas que, incandescentes que são, acabam por turvar a vista. E como é meio-dia, melhor não se mostrar tanto. Mas quando eu estou aqui sozinho, com um livro na mão, a atitude é diversa. Primeiro, olhar, folhear, passar as páginas uma a uma, conferi-las rapidamente, para enxergar o que há ali de palavra e o que há ali de visual que a palavra pode ter. Impressões iniciais. Depois, ver com as mãos e com os olhos. Constatar que ali estão algumas pessoas e alguma cidade e alguma poesia NA/DA/SOBRE A/CONTRA A/ ATRAVÉS DA/COM A cidade. Mas a cidade se desdobra. Alguns diriam: se desdobra numa dobra. Mas não terminei de ler a filosofia contemporânea, nem me confrontei decentemente com esquizoanálise. Então passo a ler. Primeiro a apresentação de Diego Vinhas, cujo nome me sugere a origem da embriaguez, seus primórdios e seus emaranhados. Veja só: “O que pode ter de significativo ou bobagem, uma querida bobagem, em tentar, a partir de algumas pessoas, amigas, provocar um mínimo de tensão [desejável para mim], de fazer uma cidade [uma primeira ambiguidade que eu também desejaria para mim mesmo], por pequenos mundos dela (as mesmas pessoas amigas), pensar em si, olhar seus próprios desvios, seus baldios, para um gesto de movimento.” Diego Vinhas me dá a possibilidade, então, de pensar a poesia contemporânea produzida por aqui da maneira que eu gostaria, alguns mundos juntos, num só suporte, numa só trama, numa mesma materialidade. E aí me empolgo mais e penso na minha dificuldade de aceder ao coletivismo, dificuldade própria da minha natureza pétrea. Mas, como se isso não bastasse, para alguém que se pretende pesquisador, ainda lança uma respiração a mais: “Meio-dia sublinha o corpo, anula a sombra.” O corpo. A sombra anulada, desfeita, impossível de ser vista, mas que existe como signo; e tudo o mais. Imagens que têm muito a ver com a natureza da literatura produzida agora, já, hoje e possivelmente no tempo próximo; impressão minha. Com corpo e lacunas, sinais pensados, partilhados, complexos, afirmando (o que os poetas dizem? E a resposta é: dizem agora). Não vou falar agora o que penso, nem é necessário. Leio na ordem dada por Diego Vinhas, porque me pareceu um organizador organizado. Ainda estou fazendo anotações aos poemas de Henrique Dídimo. Depois eu falo.
LEOCÁDIO, RENCONTREI VOCÊ. LEMBRAS? FUI ORIENTADORA EDUCACIONAL DO PAULO BENEVIDES.VEJA ESTE MEU TEXTO:
ResponderExcluirFlor de Mandacaru
No dia que o mandacaru desabrochou mansa
Entre seus espinhos, uma branca flor
Na minha vaga imaginação de criança
Não percebia ainda seu verdadeiro valor.
Minha alma estava ainda sem mácula
E a flor ficou esquecida na minha cerca
Guardei reminiscências do passado sem mágoa
Hoje, para colorir a vida ponho-a na minha cesta.
O sol que cresta também fortalece os prados
Uma vaga doçura tramita no meu coração a doer
Compreendo que uma flor em campos áridos
Prenuncia ser orvalho, na seca do sertão a arder.
No espelho da velha estrada, comprida,
Vejo a imagem da flor e do espinho
Posta na sacada da luz da vida
Enfeitando meus sonhos, o meu caminho.
Acordei de um sonho do passado sentindo os passos
Somente agora confesso, a saudade cai sobre mim,
Nessa longa estrada da vida deixo meus rastros
Embalada num compasso de sentimentos sem fim.
Olá Roseli, lindo poema. Tenho sim lembranças da época do Paulo Benevides, q época boa.
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